Meu Hétero Favorito

Quando eu era mais nova, acreditava em muitos mitos sobre a convivência entre homens e mulheres. Dizia-se que amigos do sexo oposto não podiam ser amigos verdadeiros, que inevitavelmente a relação se transformaria em paixão ou em segundas intenções. Mas a vida me provou o contrário quando conheci meu melhor amigo, um homem heterossexual de quem sinto muita admiração e carinho até hoje.

Nos conhecemos ainda na escola, naquela fase em que éramos adolescentes cheios de sonhos e incertezas. Ele era o capitão do time de futebol, o mais popular da turma e constante alvo de olhares curiosos e paquerinhas. Eu, por outro lado, não me encaixava em nenhum estereótipo: lia livros demais, pintava as unhas de cores diferentes e me vestia como gostava, não como ditavam as regras da moda. Não éramos tão próximos no começo, mas a rotina de escola e as amizades em comum foram criando laços entre nós.

O que me chamou a atenção nele, inicialmente, foi sua autoconfiança. Ele nunca parecia abalado pelos comentários maldosos dos colegas, nem se deixava influenciar pelas pressões sociais que seus amigos impunham. No campo de futebol, era ele quem liderava o time com serenidade e técnica, sempre buscando o trabalho em equipe e o respeito às regras. Fora dele, mostrava-se um amigo leal e generoso, disposto a ajudar em qualquer problema que surgisse.

Com o tempo, fui percebendo que essa autoconfiança não vinha de uma autoestima frágil ou arrogância, mas sim de uma postura tranquila e segura diante das adversidades. Ele sabia quem era e o que valorizava na vida, e não tinha medo de ser diferente dos outros. Isso me inspirou muito, pois eu mesma tinha muitas dúvidas sobre minha identidade e minhas preferências. Ele me mostrou que não precisava me encaixar em nenhum molde para ser respeitada e amada.

Nossa amizade foi crescendo conforme compartilhávamos nossos medos, sonhos e conquistas. Ele me ouvia com atenção e me apoiava em minhas escolhas, mesmo quando elas eram diferentes das dele. Eu o ajudava com os deveres de casa e nas festas de família, apresentando-o a meus parentes como meu amigo querido. Foi assim que, aos poucos, fomos nos tornando essenciais um para o outro, uma presença constante e reconfortante em momentos de alegria ou tristeza.

O que mais admiro nele, hoje em dia, é sua masculinidade saudável e respeitosa. Ele não se envergonha de demonstrar afeto pelos amigos, seja dando um abraço ou um beijo no rosto, e não faz piadas ofensivas ou discriminatórias sobre pessoas LGBTQ+. Pelo contrário, ele valoriza a diversidade e a igualdade de gênero como pilares de uma sociedade mais justa e democrática. Isso não diminui em nada sua virilidade ou seu caráter, muito pelo contrário: mostra que ele é capaz de ser um homem forte e empático ao mesmo tempo.

Sei que muitas pessoas poderiam olhar para nossa amizade com desconfiança ou malícia, achando que há algo de errado em um homem e uma mulher serem tão próximos. Mas para mim, essa relação é uma prova de que a heterossexualidade não precisa ser um obstáculo à amizade sincera e enriquecedora. Pelo contrário, ela pode ser uma oportunidade de aprendizado e crescimento, de troca de afeto e valores, de respeito e admiração.

Por isso, meu hétero favorito é uma das pessoas mais especiais em minha vida. É alguém que me ensinou a ser forte e confiante em quem sou, a valorizar as amizades verdadeiras e a lutar pelo respeito e pela igualdade entre as pessoas. Espero que outras pessoas possam ter a sorte de encontrar um amigo assim, e que possam aprender com ele o poder da masculinidade saudável e da diversidade sexual. Pois quando abrimos nossos corações e mentes para o outro, descobrimos que há muito mais a ganhar do que a perder.